quarta-feira, 19 de março de 2014

Reconhecimento

"Não importa que você tenha nos ignorado e desacreditado durante esse tempo. 
Nós estamos aqui. 
Nós estamos acreditamos. 
Estamos prontos para trabalhar."


Não se afobe, não

Quando você se senta com alguém e o silêncio aparece, você permite que o outro te olhe, observe e perceba-te além do que possas estabelecer como limite.
Do mesmo modo, ao ficar em silêncio, é mais fácil entrar em contato com questões e processos que talvez, não esteja tão a fim. O silêncio pode te deixar com uma sensação de vulnerabilidade quando acessa conteúdos não verbalizados. No entanto, a vulnerabilidade está contraditoriamente na negação, no desconhecimento das emoções, na falta de contato com a própria realidade.
Tão comum escutar hoje em dia - "falo muito, sou alegre. Tem que conversar, rir, contar as coisas, ter sempre muito, todos, infinitos assuntos, sem critério, falar de pessoas, falar de coisas. O mundo já tem muita tristeza". Sinto tanta contradição nessa postura, pois para mim, quanto mais contato com a realidade, mais plena e acolhida a pessoa está. Acolho minha tristeza, porque ela, assim como a alegria, é uma emoção básica, e meu corpo tem a sabedoria de obedecer aos meus comandos sem muita discriminação, de modo que quando fecha a parta para um sentimento específico, não se abrirá para outros.
Essa plenitude tão almejada se consegue trilhando caminhos mil do próprio conhecimento emocional, que demanda um certa grau de recolhimento.
Conversar é um recurso catártico maravilhoso e de potencialidade terapêutica infinita. Que não se transforme em fuga desse contato, dessa realidade.


Que nada é pra já.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Minhas silenciosas palavras


Gostaria que eu soubesse como traduzir em palavras todos os sentimentos que brotam profusamente de Minh ‘alma.
Poder transformar uma angústia em várias letras juntas formando conjuntos de símbolos que se lidos num prisma correto faria com que tudo num instante de magnânima revelação fizesse sentido.
Em outra esfera cósmica minhas palavras cativam.
São tantos outros bons tradutores de palavras que a concorrência desleal quase me fez desistir de escrever, mas quem sabe não seja esse pequeno rompante de insanidade pura aliada a uma vontade enorme de tocar sua alma que não te faça perceber que eu não sei falar, mas que tento desmesuradamente juntar em versos a elucidação de mim.
Esses trechos voarão com o vento frio que entra pela brecha da janela e serão entregues ao mundo, juntando-se a todos os outros gritos e preces que foram lançados ao pálio celeste.
Não sei se alguém em algum lugar os escutará, mas eu os escuto.

Tudo o que recebo de volta são os ecos tristes de um lugar vazio.





Tainha :)

Não dito que aprisiona

O segredo dos seus olhos é surpreendente, te desconcertar nos últimos minutos quando você pensa que nada poderia ser mais mobilizador que a cena de abuso logo no início. O deslumbre das prisões que o silêncio cria, incita a reflexão do poder que as palavras possuem para influenciar, aprisionar, amordaçar, mas também libertar vidas. Várias vidas, cada qual a seu modo influenciadas pelas consequências do que não foi dito e da necessidade de se ouvir. O cara amordaçado por sentimentos que o inundam de impotência, muito bem representado pelo bilhete que traduz o que sente “TEMO”; passo importante para libertá-lo quando consegue acrescentar a letra "A" no meio do seu bilhete. Outra vida presa na ânsia do ouvir o que nunca foi dito. E a súplica catatônica: “se ele ao menos falasse comigo” que cela a prisão de existências amordaçadas pelo silêncio.


domingo, 26 de janeiro de 2014

O cheiro.

 Eu não conhecia o seu cheiro. Mas era bom, me confortava. 
Era de paz.
Naquele momento era paz. 
Mas ao fim desse abraço foi inquietude.

Já havia tempos que não via essa amiga. Sentia muita saudade, queria vê-la, conversar, rir, rir muito. 
Já estava cansada de tanta saudade e promessas de que "logo a gente se vê". Pois bem. Nos vimos. 
Ao certo, esse encontro fora muito bom. Tenho certeza que sim. Mas não me lembro. Não foi esse o encontro que me marcou.
Me afetou um encontro inesperado. O cheiro. O abraço. O conforto. A alegria. O medo do reconhecimento desse afeto.

Não esperava ver você. Ora, essa querida amiga me puxava, me levava a outro cômodo em que duas pessoas inesperadas... nos esperavam. Estavam lá, os dois, conversando.  
Eu me surpreendi. Não esperava vê-lo. Mas já que vi... às convenções.
Nos abraçamos.
"Nossa, que saudade. Quanto tempo!"
"Também saudade."

Então o cheiro. 
Não o sentira antes. 
Estranho. 
Não sabia qual seu cheiro, e ao saber não o conhecia. Mas ao sentir, tive certeza de que esse era o seu cheiro. Era o cheiro certo. Ele não estaria em outro lugar senão em você. Gostava.
E esse abraço se estendeu. 
Foi eterno. 
Foi certo.
Meu coração disparado, pulando de alegria. 
Era alegria. 
Era paz. 
Era conforto. 
Era bom.
Tinha medo também. Um medo de que "céus! não há como não sentir que esse coração está demasiadamente disparado."
Mas de algum modo, veio a certeza de que você não percebera. 
Havia a possibilidade de não distinguir de qual coração vinha tal agitação.

Era preciso se afastar. Duas pessoas nos olhavam. Duas pessoas que sabiam não haver ligação que justificava tal encontro.
Mas você também estava confortável. Você também sentia paz.

Onde termina a falta de empatia e começa a violência?

Saio de um centro de saúde pública aflita. Não foi a fila. Não foi a demanda. Não foi sequer a presença do adoecer. Aliás, o meu olhar me disse sobre um adoecimento cruel, violento, mas sutil.
A aflição gerada pela fala. Não a fala de um@ paciente, mas de uma profissional. 
Saíra do ambulatória e foi-se reunir às colegas. O caso era de uma criança. Um capeta. C-A-P-E-T-A. Eu lhe disse: “você não vai ficar quieta? Senta agora! Tem que sentar”. Pensa, gente, numa criança difícil. Veio com a avó. A mãe usuária de crack. Aquelas famílias sabe? Pois é. A mãe: negra. NEGRA, PRETINHA.
As últimas 3 palavras não foram pronunciadas em caixa alta. Não foram ditas em alto e bom som. Apesar de terem sido ditas e frisadas por três vezes, foram apenas balbuciadas, para que apenas as 4 pessoas presentes na sala conseguissem ouvir o que realmente estava sendo dito. 
Pois que tivesse gritado. Deveria. Deveria ter gritado: negra, preta! Deveria ter gritado o horror que esse sussurro e tremular dos seus lábios adoecidos estavam dizendo ali, em um centro de saúde público, de uma profissional que fala do acolher, do contato empático, da saúde mental, da humanização! Céus, da humanização!
Pois deveria ter gritado, pois assim, teria tido a oportunidade de me permitir também gritar respostas a uma conversa que não havia sido convidada, mas que infelizmente havia presenciado. Gritado o horror! Gritado a denúncia à violência simbólica que houvera presenciado. Ao racismo, sim ao racismo que essa garota certamente negaria o ato. Mas sim minha cara, tu és racista! Poderias ter dito tudo ao sair daquele atendimento:
A mãe: alta
A mãe: navegadora
A mãe: com problema de vista
A mãe: gaúcha
A mãe: astronauta
A mãe: ausente
A mãe: trabalha muito

Mas não, dissestes:
A mãe: negra. 

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Créditos do título: http://alexcastro.com.br/alex-voce-preferia-uma-filha-gay-ou-ladra/

domingo, 24 de março de 2013

Cadê o afeto?

Acho engraçado e até um pouco irônico quando as pessoas falam "hoje em dia é assim" ou, "as pessoas de antigamente eram melhores", como se a humanidade estivesse sempre se afundando cada vez mais em uma areia movediça... 



Acontece, que até mesmo nós jovens, tão privilegiados com as facilidades da internet e da tecnologia em geral, sentimos carência de tantas coisas que parecem não haver mais. Tenho certeza que muitos vão se identificar com brincadeiras como queimada na rua, subir em árvores, caixa de areia, correr na chuva, jogar balão d'água... Por mais que sejam acontecimentos que todos falam sempre, devemos assumir que esse tipo de distração, apesar de ainda estarem presentes hoje, não são tão comuns quanto antes.

Essas facilidades, que tanto nos aproximam... E tanto nos afastam. Encontros se transformaram em telefonemas, que se transformaram em sms, whatsapp, etc. "Conversamos" o dia inteiro e nos consideramos super próximos uns dos outros por passar o tempo todo trocando mensagens instantâneas. Como é difícil encontrar com amigos sempre que precisamos de conselhos ou desabafos. A demanda é muito maior do que o tempo disponível.

Daí encontramos aquelas pessoas que fazem parte da nossa rotina, ou esporadicamente aquelas que não fazem e, lado a lado, dizem "um beijo", ou "um abraço" ou pior... "um grande abraço".



As cidades e escolas estão cheias de crianças e adultos carentes e egoístas, reprimidos ou extremamente especializados em um assunto e ignorantes no que se refere a relações sociais e afetivas.

Precisamos de utilizar a tecnologia, o conforto e o bem-estar de forma a nos ajudar a crescer. Como um impulso para sair da areia, e não como uma pedra que nos ajuda a afundar. Vamos nos beijar, abraçar, brincar e cumprimentar. Vamos ser exagerados, sinceros e francos. 

Vamos ser antiquados, da época em que se resolvia um problema como homens e mulheres que se encaram e conversam sobre o que carregam no coração. Vamos ser humanos.


Sara Melo.