segunda-feira, 14 de julho de 2014

Que'c gosta de ouvir?

a inquietação veio do alex e em menos de um minuto foi listada:


o comentário irreverente de uma criança. 
a água do chuveiro caindo. 
o barulho que meu cabelo faz com um cafuné. 
o toque do interfone.
 uma pessoa amiga falando: "cê tá "assim" hoje, quê que foi?". 
o click da panela com o arroz pronto. 
uma rodela de limão caindo em um copo de água com gás. 
gelo batendo no copo. 
miados. 
embalagem de chocolate. 
a vinheta de abertura de um filme da warner. 
abertura de friends. 
violão. 
violino. 
capoeira. 
embalagem de presente sendo rasgada. 
papel velho sendo rasgado. 
o café escorrendo do coador pra garrafa. 
os gritos da minha vizinha brincando no bloco. 
“oi meu amor”. 
“chegou que horas?”. 
alívio do choro. 
gritos, de qualquer espécie, de prazer, de surpresa, de alegria, de conforto. 

De música? Uai, acabei de falar.

domingo, 25 de maio de 2014

A respeito de segurança e insegurança

Incríveis os feitos da procrastinação. Ela te trás as melhores ideias, as maiores inspirações, as grandes expectativas.. E, claro, muito sono e stress, pois nada disso se refere às obrigações que você tem a cumprir.
Neste meu momento de quase ápice do procrastinamento, me inspirei a respeito de segurança...
Como nós, seres inseguros somos sofridamente e dramaticamente ignorantes. Se soubéssemos o quanto os outros admiram a segurança, não seríamos tão inseguros. (Ou sabemos e por isso o somos?)
O que acontece, é que por mais qualidades que a gente tenha, sempre estamos procurando (e encontrando) uma falha a ser concertada. Uma falha que aponta a ausência de uma qualidade fundamental. Tão fundamental que todo o mundo vai conseguir perceber que não a temos. Difícil ser assim, não é?
Difícil e inútil... Algumas vezes útil, pois a insegurança muitas vezes dá fruto a uma pró-atividade e capricho sem igual. Defendo a teoria que os inseguros são os melhores de serviço.
Mas, a que custo? A custo de noites de insônia, dores de cabeça, gastrite, ansiedade, nervosismo, submissão e tantas outras coisas que só nos prejudicam? Será que vale a pena? (Vamos ser práticos e abandonar essa história do "inevitável").
Todo mundo gosta de quem é autêntico, seguro, independente e todo o resto... Por mais que a gente pense que os outros vão gostar de quem esteja sempre lá para eles e adapte as vontades às suas, sabe aquele clichê que diz que a gente gosta mesmo é de apanhar? Gosta mesmo. Não literalmente, claro... (quer dizer, alguns literalmente também, mas isso é outro assunto).
Ninguém ("de respeito") quer alguém que faça tudo por você. Não mesmo. Não sinceramente e amorosamente falando. A gente quer alguém que caminhe junto, alguém que olhemos e vejamos como sendo diferente de todos os outros. Alguém único no mundo.
E, mesmo que o impulso inicial seja este, a segurança não faz tão bem a qualquer um outro, quanto pra você, para as suas noites de sono, para o seu organismo e seu sistema nervoso.
Eu sei que todos os livros de auto-ajuda estão por aí repetindo a mesma coisa o tempo todo, com abordagens totalmente diferentes e nunca fez realmente efeito até aqui.
Mas tente entender mais uma coisa: A maioria das lições só traz realmente alguma mudança, quando somos nós quem as criamos.

Sara Melo.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

"Será melhor ter alguma coisa e perdê-la, ou nunca a ter tido?"
- Charles Dickens.

sábado, 19 de abril de 2014

Caos

Uma multidão assiste e se envolve em um espetáculo que celebra a  vida. Basta que esse espetáculo termine para que todos se levantem, ou não, e comecem com diferenças de segundos a baterem palmas. Centenas de pessoas. Cada uma em um momento. Um caos.
Não precisa muito tempo para que essas palmas entrem em sintonia e ganhem força, todas ao mesmo tempo em sinal de gratidão e reconhecimento.
Esse mesmo caos unifica, cria sintonia e coloca cada pessoa dessa multidão no seu lugar de importância e igualdade nesse momento.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Sobre o que fica gasto de tanto se dizer

O vídeo do filtro solar diz que conselho e uma forma de nostalgia. Pois eu, que sou ousada, digo ainda mais: Os clichês são uma forma de nostalgia. A juventude é uma dádiva, e se você é jovem ainda, amanhã velho será. O que, na verdade é bom, pois panela velha é que faz comida boa.
Mas vamos parar de encher linguica e ir direto ao ponto, pois para um bom entendedor, meia palavra basta.


Alguns dos que estão lendo esse texto, (talvez muitos) já tenham se deparado com a situação em que soltar um clichê se torna irresistível, quase como perguntar se macaco quer banana.
Onde não importa o que se diga, só o bom e velho "não é você, sou eu" ou o "siga o seu coração" vão conseguir traduzir exatamente o que você quer dizer. O que é uma pena, pois pra quem escuta uma frase dessas, as palavras ouvidas são só "blablablá era melhor ficar calado."
Não sei se vocês já repararam, mas os mais velhos são os senhores do clichê. Que usam sem dó, até desbotar os coitados. Criam ditos populares, jargões, e outros conselhos prontos ansiosos para serem usados. E quando tem uma oportunidade, ficam igual pinto no lixo.
Acontece que a medida que a gente vai ficando mais velho e vai tomando na cara pela vida... Essas frases fazem cada vez mais sentido e as vezes a gente até se arrepende por não ter dado atenção a elas antes.
Ah, se naquela época eu tivesse a cabeça que tenho hoje, as coisas seriam diferentes.
Não seriam, os clichês, uma forma de antecipar experiências? Um aviso de que não precisa se passar pela mesma coisa dos nossos pais, avós e tios, para aprender o que eles aprenderam, se simplesmente levarmos a sério as frases tão batidas que eles dizem? Confia em mim, eu sei o que tô dizendo!
E é por isso que eu digo que clichê é uma forma de nostalgia. Talvez essas pessoas apenas quisessem ter ouvido mais, ou um pouco antes, os clichês da vida, e por isso eles continuam se repetindo infinitamente. (afinal, água mole em pedra dura...)
Mas não se preocupe se não entendeu o que eu quis dizer, talvez entenda daqui há alguns anos. Ou não. Mas lembre se que o pior cego é aquele que não quer.
Obrigada por ter lido até aqui, um passarinho verde me falou que ler sobre clichês cansa. Se não quiser pensar mais sobre isso, não tem problema. Mas ocupe seu tempo, afinal cabeça vazia é oficina do capiroto.

Um beijo e um queijo!


Sara Melo. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Reconhecimento

"Não importa que você tenha nos ignorado e desacreditado durante esse tempo. 
Nós estamos aqui. 
Nós estamos acreditamos. 
Estamos prontos para trabalhar."


Não se afobe, não

Quando você se senta com alguém e o silêncio aparece, você permite que o outro te olhe, observe e perceba-te além do que possas estabelecer como limite.
Do mesmo modo, ao ficar em silêncio, é mais fácil entrar em contato com questões e processos que talvez, não esteja tão a fim. O silêncio pode te deixar com uma sensação de vulnerabilidade quando acessa conteúdos não verbalizados. No entanto, a vulnerabilidade está contraditoriamente na negação, no desconhecimento das emoções, na falta de contato com a própria realidade.
Tão comum escutar hoje em dia - "falo muito, sou alegre. Tem que conversar, rir, contar as coisas, ter sempre muito, todos, infinitos assuntos, sem critério, falar de pessoas, falar de coisas. O mundo já tem muita tristeza". Sinto tanta contradição nessa postura, pois para mim, quanto mais contato com a realidade, mais plena e acolhida a pessoa está. Acolho minha tristeza, porque ela, assim como a alegria, é uma emoção básica, e meu corpo tem a sabedoria de obedecer aos meus comandos sem muita discriminação, de modo que quando fecha a parta para um sentimento específico, não se abrirá para outros.
Essa plenitude tão almejada se consegue trilhando caminhos mil do próprio conhecimento emocional, que demanda um certa grau de recolhimento.
Conversar é um recurso catártico maravilhoso e de potencialidade terapêutica infinita. Que não se transforme em fuga desse contato, dessa realidade.


Que nada é pra já.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Minhas silenciosas palavras


Gostaria que eu soubesse como traduzir em palavras todos os sentimentos que brotam profusamente de Minh ‘alma.
Poder transformar uma angústia em várias letras juntas formando conjuntos de símbolos que se lidos num prisma correto faria com que tudo num instante de magnânima revelação fizesse sentido.
Em outra esfera cósmica minhas palavras cativam.
São tantos outros bons tradutores de palavras que a concorrência desleal quase me fez desistir de escrever, mas quem sabe não seja esse pequeno rompante de insanidade pura aliada a uma vontade enorme de tocar sua alma que não te faça perceber que eu não sei falar, mas que tento desmesuradamente juntar em versos a elucidação de mim.
Esses trechos voarão com o vento frio que entra pela brecha da janela e serão entregues ao mundo, juntando-se a todos os outros gritos e preces que foram lançados ao pálio celeste.
Não sei se alguém em algum lugar os escutará, mas eu os escuto.

Tudo o que recebo de volta são os ecos tristes de um lugar vazio.





Tainha :)

Não dito que aprisiona

O segredo dos seus olhos é surpreendente, te desconcertar nos últimos minutos quando você pensa que nada poderia ser mais mobilizador que a cena de abuso logo no início. O deslumbre das prisões que o silêncio cria, incita a reflexão do poder que as palavras possuem para influenciar, aprisionar, amordaçar, mas também libertar vidas. Várias vidas, cada qual a seu modo influenciadas pelas consequências do que não foi dito e da necessidade de se ouvir. O cara amordaçado por sentimentos que o inundam de impotência, muito bem representado pelo bilhete que traduz o que sente “TEMO”; passo importante para libertá-lo quando consegue acrescentar a letra "A" no meio do seu bilhete. Outra vida presa na ânsia do ouvir o que nunca foi dito. E a súplica catatônica: “se ele ao menos falasse comigo” que cela a prisão de existências amordaçadas pelo silêncio.


domingo, 26 de janeiro de 2014

O cheiro.

 Eu não conhecia o seu cheiro. Mas era bom, me confortava. 
Era de paz.
Naquele momento era paz. 
Mas ao fim desse abraço foi inquietude.

Já havia tempos que não via essa amiga. Sentia muita saudade, queria vê-la, conversar, rir, rir muito. 
Já estava cansada de tanta saudade e promessas de que "logo a gente se vê". Pois bem. Nos vimos. 
Ao certo, esse encontro fora muito bom. Tenho certeza que sim. Mas não me lembro. Não foi esse o encontro que me marcou.
Me afetou um encontro inesperado. O cheiro. O abraço. O conforto. A alegria. O medo do reconhecimento desse afeto.

Não esperava ver você. Ora, essa querida amiga me puxava, me levava a outro cômodo em que duas pessoas inesperadas... nos esperavam. Estavam lá, os dois, conversando.  
Eu me surpreendi. Não esperava vê-lo. Mas já que vi... às convenções.
Nos abraçamos.
"Nossa, que saudade. Quanto tempo!"
"Também saudade."

Então o cheiro. 
Não o sentira antes. 
Estranho. 
Não sabia qual seu cheiro, e ao saber não o conhecia. Mas ao sentir, tive certeza de que esse era o seu cheiro. Era o cheiro certo. Ele não estaria em outro lugar senão em você. Gostava.
E esse abraço se estendeu. 
Foi eterno. 
Foi certo.
Meu coração disparado, pulando de alegria. 
Era alegria. 
Era paz. 
Era conforto. 
Era bom.
Tinha medo também. Um medo de que "céus! não há como não sentir que esse coração está demasiadamente disparado."
Mas de algum modo, veio a certeza de que você não percebera. 
Havia a possibilidade de não distinguir de qual coração vinha tal agitação.

Era preciso se afastar. Duas pessoas nos olhavam. Duas pessoas que sabiam não haver ligação que justificava tal encontro.
Mas você também estava confortável. Você também sentia paz.

Onde termina a falta de empatia e começa a violência?

Saio de um centro de saúde pública aflita. Não foi a fila. Não foi a demanda. Não foi sequer a presença do adoecer. Aliás, o meu olhar me disse sobre um adoecimento cruel, violento, mas sutil.
A aflição gerada pela fala. Não a fala de um@ paciente, mas de uma profissional. 
Saíra do ambulatória e foi-se reunir às colegas. O caso era de uma criança. Um capeta. C-A-P-E-T-A. Eu lhe disse: “você não vai ficar quieta? Senta agora! Tem que sentar”. Pensa, gente, numa criança difícil. Veio com a avó. A mãe usuária de crack. Aquelas famílias sabe? Pois é. A mãe: negra. NEGRA, PRETINHA.
As últimas 3 palavras não foram pronunciadas em caixa alta. Não foram ditas em alto e bom som. Apesar de terem sido ditas e frisadas por três vezes, foram apenas balbuciadas, para que apenas as 4 pessoas presentes na sala conseguissem ouvir o que realmente estava sendo dito. 
Pois que tivesse gritado. Deveria. Deveria ter gritado: negra, preta! Deveria ter gritado o horror que esse sussurro e tremular dos seus lábios adoecidos estavam dizendo ali, em um centro de saúde público, de uma profissional que fala do acolher, do contato empático, da saúde mental, da humanização! Céus, da humanização!
Pois deveria ter gritado, pois assim, teria tido a oportunidade de me permitir também gritar respostas a uma conversa que não havia sido convidada, mas que infelizmente havia presenciado. Gritado o horror! Gritado a denúncia à violência simbólica que houvera presenciado. Ao racismo, sim ao racismo que essa garota certamente negaria o ato. Mas sim minha cara, tu és racista! Poderias ter dito tudo ao sair daquele atendimento:
A mãe: alta
A mãe: navegadora
A mãe: com problema de vista
A mãe: gaúcha
A mãe: astronauta
A mãe: ausente
A mãe: trabalha muito

Mas não, dissestes:
A mãe: negra. 

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Créditos do título: http://alexcastro.com.br/alex-voce-preferia-uma-filha-gay-ou-ladra/